Felicidade em tempos desafiadores

Por Elisa Guarido

Muito tem se falado sobre o tema Felicidade, mas do ponto de vista externo, por exemplo.: ações de consultorias para implantação de uma Cultura de Felicidade no trabalho, empresas adotando benefícios diferenciados, melhor ambiente de convivência e incentivando uma gestão mais humanizada, mas e do ponto de vista do indivíduo, o que é felicidade? Quando alguém se sente feliz?

Através da observação do comportamento humano nestes 25 anos de carreira, e principalmente nos últimos seis anos, quando me conectei com o tema da Felicidade através da Escola Vinning de Felicidade. Foi então que aprendi que, para nos sentirmos de fato felizes, precisamos ter clareza do que nos faz feliz (âmbito individual), como podemos fazer as pessoas a nossa volta mais felizes (nossa relações), como podemos impactar a sociedade e o mundo a nossa volta (sentido mais amplo), seja através de ações socioculturais, de voluntariado ou um simples gesto gentil para ajudar alguém desconhecido na fila do supermercado – todas estas ações com o propósito de propiciar situações de felicidade, para si e para o outro.

Percebi então que felicidade é um estado, digo isto porque não a vejo como uma sensação permanente, se assim fosse, poderíamos ser julgados como “loucos” em fase de mania, não é?  Mas observamos que, o sentimento de felicidade, em geral, acontece perante situações que nos alegram, que nos trazem prazer. Por outro lado, olhando para nós, como indivíduos, podemos também dizer que a felicidade depende da forma que cada um julga um acontecimento, se positiva ou negativamente, ou como cada um escolhe enxergar as coisas e se posicionar perante estes acontecimentos – o tal “copo meio cheio ou meio vazio”.

O importante é entender como nossa mente funciona para entendermos como reagimos. Pois de fato há momentos os quais nos deparamos com situações desafiadoras, como os vividos nos últimos tempos com a situação de pandemia, aumento da violência, pessoas em situação de rua, guerra na Ucrânia, crise financeira, etc… mas penso que cabe a nós olharmos para tais situações como uma oportunidade de aprendizado e de nos melhorarmos como seres humanos. Por outro lado, existem pessoas propensas a sofrerem por mais tempo, sentindo-se frustradas, deprimidas, ansiosas ou tristes – não que pessoas resilientes não sintam as mesmas coisas, mas são capazes de se recuperarem mais rapidamente.

É notório que situações boas e ruins fazem parte da vida, mas o que difere é a forma que tais situações são percebidas e sentidas, cada qual de acordo com as experiencias de vida e influências sofridas por cada um, no decorrer de sua história, contribuindo assim com a construção de seus modelos mentais (mindset).

No livro “Mindset” Carol Dweck(1) fala sobre a importância de identificarmos como é nosso Mindset, se fixo (com crenças não mutáveis), ou de crescimento (crenças que mudam perante experiências e aprendizados), pois nosso mindset é o que determina a forma que sentimos, pensamos e agimos – portanto, a forma que determina o sentimento de felicidade ou não. Daí a necessidade pela busca do autoconhecimento – quanto mais nos conhecemos, melhor entendemos como funcionamos internamente e reagimos de acordo aos estímulos externos. Quanto mais nos conhecemos e mais positivo for o mindset de cada um, mais conseguiremos controlar nossas emoções e agir de forma coerente aos acontecimentos externos, mesmo que desafiadores.

Por exemplo, algumas pessoas acreditam que ter sucesso e atingir um alto cargo em uma organização, traz felicidade, mas estudos mostram que, quanto maior o cargo, maior o nível de responsabilidades e menores são as opções de crescimento – pois poucos são os cargos executivos. Isto então significa que as demais pessoas da organização, que não atingem altos cargos não são felizes? No livro Executivos – Sucesso e (In)Felicidade (2) os autores (Tanure et all) falam sobre pesquisas realizadas com profissionais (masculino e feminino) em altos cargos executivos, onde abordam o tema felicidade x sucesso e pode-se dizer que, a percepção sobre felicidade vem do sentimento de cada um sobre o quão seus próprios valores estão alinhados aos valores das empresas para quem trabalham e o quão sentem que seu propósito de vida está sendo cumprido, tanto dentro quanto fora de tais empresas – provando que não é a quantidade de dinheiro que ganham ou vaidade pelo cargo que ocupam que os tornam felizes. Pelo contrário, muitos ainda se sentem insatisfeitos por não conseguirem equilibrar vida profissional x vida pessoal e familiar, em função das demandas do trabalho, mesmo sendo apaixonados pelo que fazem. Fica então o alerta para que cada um saiba identificar os sinais dos excessos, para evitar antecipadamente uma situação burnout – mas este é um tema para um próximo artigo!

É notório dizer então, que tais demandas e pressões aumentaram durante o período de pandemia, mesmo ficando em casa com suas famílias. Existiu a demanda dos líderes em empresas pela gestão à distância, pessoas precisaram lidar com perdas, lidar com emoções (próprias e dos demais) e ainda assim conseguir que suas equipes entregassem resultados. Observando as mais variadas organizações (em seguimentos e tamanhos), as que obtiveram melhores resultados foram aquelas que rapidamente se adaptaram à realidade a ser enfrentada, lançando mão de ferramentas tecnológicas para atuação, contato com suas equipes e apoio mútuo. O desafio enfrentado nos últimos meses, não só nas organizações, mas por todos, é o retorno às atividades dentro de um “novo normal”, seja no ambiente de trabalho, familiar, escola dos filhos e até mundial.

Em outras palavras, para que exista uma percepção de maior ou menor impacto, dependerá de como cada um olhará este novo cenário, de acordo com sua estrutura interna, de sua resiliência, mindset positivo e de crescimento e habilidade de adaptação, estando mais abertos a aprender com as situações, por mais desafiadoras que sejam. Que escolham fazer o melhor que podem com os recursos que têm (citando Cortella), tirar o melhor do pior cenário, apreciando tudo que tem, e todos a sua volta, na busca por uma vida mais feliz e de significado. (4)

Mas que também, na vida, cada ser humano possa ter um olhar mais humanizado, entendendo que pessoas não são super-heróis, que está tudo bem admitir suas vulnerabilidades e fraquezas e buscar ajuda, pois admitir que precisa de apoio, também é um grande ato de coragem (4).  Não se esquecendo que, uma das melhores formas de trazer felicidade às nossas vidas é através da prática da compaixão – consigo mesmos e com o próximo.

Bibliografia:

(1) Mindset: A nova Psicologia do Sucesso, Dweck, Carol S. – Ed. Objetiva, 2006

(2) Executivos: Sucesso e (In)Felicidade, Tanure. Betania, Carvalho Neto. Antonio e Andrade. Juliana – Ed. Elsevier Ltda, 2007

(3) Delivering Happiness: a Path to Profits, Passion and Purpose, Hsieh, Tony (CEO at Zappos.com) – Ed. Grand Central, 2010

(4) A Coragem de ser imperfeito, Brown, Brené. – Ed. Sextante, 2012