Os impactos da felicidade fabricada para as redes sociais
Estudo do Grupo Consumoteca aborda a “tirania da positividade”; o antropólogo Michel Alcoforado comenta as consequências para o mundo do consumo.
Uma realidade nas redes e outra fora delas: 58% dos brasileiros ouvidos sentem-se insatisfeitos com sua vida atual (Crédito: Rohappy-iStock)
O Grupo Consumoteca, liderado pelo antropólogo Michel Alcoforado, divulgou recentemente os resultados do estudo “Economia do mal-estar”, no qual avaliou a metrificação da felicidade na era das redes sociais – e como isso acaba gerando produtos que se oferecem como soluções rápidas para as angústias às vezes até agravadas por essa quase obrigatoriedade de estar ou parecer feliz. Foram entrevistadas três mil pessoas, numa etapa quantitativa, feita por meio de aplicativos online na América Latina, além de 15 grupos focais no Brasil.
Além do País, a Consumoteca, em parceria com Epiphania e Trop, ouviu cidadãos do México, Argentina e Colômbia. A ideia era analisar se existe felicidade além das redes ou se todos estão realmente presos ao padrão do mundo digital de provar com audiência, likes e comentários o quanto se é feliz.
Os brasileiros são os mais infelizes entre os países pesquisados: 58% sentem-se insatisfeitos com sua vida atual. Além disso, oito em cada dez pessoas dizem ter projetos que não conseguem tirar do papel, 41% acham que não fazem tudo que poderiam fazer por sua felicidade e 35% das pessoas se sentem mais negativas quando acompanham a vida dos outros nas redes sociais.
Para correr atrás desse “prejuízo” 65% consomem conteúdos sobre aprimoramento pessoal, 52% buscam alcançar a felicidade seguindo perfis motivacionais, 38% vão a eventos de desenvolvimento pessoal; 35% já realizaram algum processo de coaching e 34% leem livros de autoajuda.
Segundo Alcoforado, se antes, em sociedades capitalistas como as dos países avaliados no estudo, havia um caminho razoavelmente claro para a felicidade – trabalho, casamento e filhos – hoje, com tudo isso colocado em questão, já que vivemos a sociedade capitalista da informação, vale mais a jornada de busca da plenitude do que o chegar lá exatamente. Só que a apreciação dessa jornada não é feita somente por quem a vive, precisa também ter o aval da audiência online. No mundo do trabalho, aliás, 57% acham que terão de reinventar sua carreira e 58% gostariam de melhorar sua produtividade.
Com tudo isso, analisa o antropólogo, a velha história de “plantar e colher” foi substituída pelo postar, numa espécie de tirania da positividade, que no fundo deixa a sensação de as pessoas terem sempre de estar correndo atrás nesse páreo.
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