Forças de caráter: quais são e como elas contribuem para a sua felicidade

Confira o artigo de Clélia Gorki publicado pela coluna Vive Bem do UOL.

Você possui características positivas próprias que afetam a forma como pensa, sente e se comporta e que podem ser a ponte para conduzi-lo a uma vida mais plena e feliz. A grande questão é: quais são elas e como melhor utilizá-las em prol da sua melhor versão? É um caminho de autoconhecimento e, como tal, tem lá seus desafios. Mas a boa notícia é que é possível identificar quais são as suas principais forças de caráter —as cinco primeiras são chamadas de forças de assinatura— por meio da aplicação de um teste gratuito do VIA Institute On Character, uma organização internacional sem fins lucrativos. O teste lista 24 forças, entre elas, amor, justiça, integridade e criatividade (ver lista completa abaixo).

O médico psiquiatra Leonardo Machado, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), explica que as forças são traços universais que variam de intensidade de pessoa para pessoa e que, quando colocadas em prática, elevam as emoções positivas e contribuem para a satisfação com a vida. “Quando as ativamos, tendemos a nos sentir bem pelo próprio fato de a força estar sendo acionada, e não apenas pelos resultados concretos que elas podem trazer”, diz. Embora as forças sejam algo instintivo em nós, podemos saber quais são as nossas principais e quais não temos com tanta intensidade. Isso pode ser um fator fundamental para tomada de decisões, como escolher qual carreira seguir, ou mesmo ser um divisor de águas em nossa vida pessoal.

A advogada e mediadora paranaense Vanessa Cristina Veit Aguiar, 43, passou por uma mudança de rota profissional tendo a aplicação de suas forças de caráter como guia. Atuando por quase duas décadas com processos e litígios, ela não se sentia realizada com a profissão. Com quadro clínico de estresse e um diagnóstico de infertilidade na tentativa de engravidar do segundo filho, ela decidiu deixar a advocacia, chegando a pedir exoneração de um concurso público. Passou, então, a se dedicar ao tratamento para engravidar e hoje tem uma filha de 2 anos e meio, além de seu mais velho, de 9 anos.

Após a bem sucedida decisão de investir no tratamento da gravidez, Vanessa desejou voltar ao mercado de trabalho. Para tanto, ingressou num curso de especialização em psicologia positiva, quando teve a oportunidade de conhecer a ferramenta das forças de caráter. “Descobri que as minhas forças de assinatura são inteligência social, perspectiva e integridade —o que me fez entender o motivo pelo qual não me sentia motivada advogando com a área litigiosa. Em um ambiente litigioso e competitivo, a força de inteligência social não é eficiente. Pelo contrário, pode até atrapalhar”, considera ela.

Com o conhecimento de suas forças, Vanessa elaborou um plano de transição de carreira, sem precisar mudar de profissão. Hoje, após se especializar em métodos consensuais para solução de conflitos, ela abriu seu próprio escritório, onde atua na área de direito das famílias, de forma colaborativa e extrajudicial. “Neste novo contexto, as minhas forças são grandes aliadas e potencializam os meus atendimentos. Redescobri a advocacia e agora posso dizer que sou apaixonada pela minha profissão”.

Forças de caráter podem mudar

Embora as forças de assinatura sejam as nossas mais frequentes, é importante considerar que elas podem mudar. A doutora em psicologia Ana Paula Porto Noronha, professora de pós-graduação da USF (Universidade São Francisco), explica que elas consistem no que é mais representativo do indivíduo, nas caraterísticas definidoras da sua existência, mas elas podem se alterar.

“As pessoas são passíveis de desenvolvimento, em reação ao curso natural da vida”, diz. Noronha ressalta ainda que as capacidades pessoais também podem ser desenvolvidas. “Em determinadas situações, um trabalho psicológico de base é indispensável, tanto para a identificação como para o desenvolvimento de uma força. Você pode saber que tem persistência, que continua uma ação até que o objetivo seja alcançado. Mas alguns indivíduos apenas descobrirão sua perseverança com um auxílio profissional”.

Amor, esperança e espiritualidade são as forças que melhor definem hoje o médico Henrique Rego, 39, especializado em saúde integrativa e bem-estar e professor do curso de pós-graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Formado há 15 anos, ele trabalhou como geriatra, clínico e médico de família em consultórios e hospitais até identificar que queria atuar em sua profissão de forma mais abrangente, explorando as relações e conexões sociais, fomentando diálogos e compartilhando ideias.

“Olhando em retrospecto, vejo que minha evolução para uma forma de trabalhar mais autêntica, leve e significativa foi acompanhada da minha decisão por assumir e aceitar minhas forças de assinatura. A partir desse maior reconhecimento delas e de outras forças de caráter, fui percebendo gradativamente meu gosto por atuar como professor, coaching e comunicador. Meus interesses foram fazendo mais sentido e pude então direcionar minha atenção a novas formas de atuar profissionalmente”, diz.

Também foi com autoconhecimento e uso de suas forças que Henrique ampliou a aplicação de seus conhecimentos até se tornar um “especialista em gente”, como se autodenomina. Hoje, além de sua atuação como médico e professor, ele desenvolve os papéis de músico, em um projeto chamado Medicina Musical, e palhaço, em trabalhos voluntários. “Sinto cada vez menos diferença no Henrique em cada um desses papéis, pela certeza de que em tudo o que eu faço a minha intenção é sempre a mesma: ajudar as pessoas a se lembrarem de quem elas realmente são, pois vejo que é aí que está a chave da cura”.

Quais são as forças?

Veja quais são as 24 forças de caráter divididas por pesquisadores em seis virtudes universais:

Sabedoria

1. Criatividade
2. Curiosidade
3. Critério
4. Amor ao aprendizado
5. Perspectiva

Coragem

6. Bravura
7. Perseverança
8. Integridade
9. Vitalidade Humanidade
10. Amor
11. Generosidade
12. Inteligência social

Justiça

13. Justiça
14. Liderança
15. Trabalho em equipe

Temperança

16. Perdão
17. Humildade
18. Prudência
19. Autocontrole

Transcendência

20. Apreciação da beleza e da excelência
21. Gratidão
22. Esperança
23. Bom humor
24. Espiritualidade

Artigo publicado na coluna Viva Bem do UOL em 14/02/22