Educação e felicidade caminham juntas e de mãos dadas

Artigo de Janice Salomão

“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro… (Rubem Alves)

Sempre que me atrevo a escrever sobre educação tenho duas pessoas que servem de constante inspiração São elas: Rubem Alves e Paulo Freire.

Enquanto um me convida a voar, sonhar, olhar com sensibilidade, imaginar outros mundos e tocar uma flauta mágica, o outro me convida a colocar os pés no chão, embarreá-los, dar sentido universalizante, construir democracia, conhecer a vida e recriá-la a partir da realidade. Mas há uma certeza que não muda: é a que a educação pode caminhar sem a metodologia freiriana, mas é impossível que caminhe sem a sensibilidade de Rubem.

Exemplos que ilustram essa afirmativa têm vindo de várias partes do mundo, inclusive do Vaticano, e de várias instituições brasileiras ligadas à educação. Uma delas, a UNESCO Brasil acabou de publicar o relatório sobre a educação no Brasil e um dos grandes destaques foi incorporar a necessidade urgente de resgatar o afeto no sistema educativo. ”Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva.” (R.A)

Esse reconhecimento pós pandemia, vem ao encontro dos estudos sobre o tema, pelo Instituto Movimento Pela Felicidade, e que se faz iluminar pelas recentes pesquisas de Harvard e de outras renomadas universidades no mundo, que afirmam ser a  educação um processo de construção da pessoa como um todo e não só de seu cérebro. Os sentimentos, a espiritualidade, o autoconhecimento, a empatia, a solidariedade, a resiliência e a capacidade de se relacionar amorosamente de forma inclusiva, tornam o ato de educar mais que um ato de aprendizagem, um ato de humanidade.

Se considerarmos as pesquisas que apontam para o futuro como a Era Humanoide, então a educação pautada em virtudes e valores caminha para esse futuro carregadinha de sentido e, portanto, muito próxima das dimensões já comprovadas, que fazem uma pessoa feliz em todas as fases de sua vida. Uma educação que convida a pessoa para que ela olhe e veja a vida de forma positiva, que diante de desafios não fique encapsulada, se lamentando, mas sim se coloque positivamente, com coragem, com sabedoria e sabendo buscar respostas assertivas para a sua resolução. A educação tem que ser, ao mesmo tempo desafiadora e amorosa, com um olhar integrador e com os ouvidos aptos a uma escutatória significativa.

É, pois, possível educar com e para a felicidade? Sim é possível. Muitos de vocês leitores, poderão trazer à memória nesse momento aquele ou aquela mestra que deixou uma marca em sua vida. Se não teve afeto, a marca foi desastrosa, mas se teve afeto, bateu uma saudade gostosa e o conhecimento foi prontamente voltando à sua memória.

E, assim mesmo, urge um tempo novo na educação, especialmente na educação pública onde os desafios são maiores e as crianças e adolescentes são ainda mais abertos a receber de seus mestres o carinho, a compaixão e o conhecimento valoroso. É possível e muito mais fácil. Basta acreditarmos que ser feliz é contagiante.

James Fowler, grande educador e teólogo americano, diz que se não “cuidamos” da criança, em sua totalidade, nos primeiros anos de vida, ela será um adulto desconfiado e infeliz. Assim como ele, nosso grande poeta e mestre Ruben Alves diz : “A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e a Educação das Sensibilidades. Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.

Por fim, a educação busca adultos competentes não em conteúdos específicos que o próprio Google pode fornecer, mas educadores com emoções, com desejos, com intermináveis buscas em seus processos de desenvolvimento e autoconhecimento. A educação quer flautistas mágicos que ao menor som carregam atrás de si meninos e meninas alegres e saltitantes com experiências de felizes aprendizagens.

Se começamos com Rubem, terminamos com Freire“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.”

Com Rubem e com Paulo ao nosso lado, nós educadores temos a sagrada missão de transformar sonhos em realidades, meninos e meninas em homens e mulheres. Assim, quando olharmos para trás poderemos dizer: minha vida, de fato, valeu a pena.

Janice Salomão