Dificuldade em expressar emoções tem a ver com competitividade
Estudo da USP indica que as relações se baseiam cada vez mais na utilidade e são carentes de afeto e compreensão
A dificuldade de reconhecer e expressar emoções tem nome, alexitimia, e pode ser fruto de uma construção social. É o que defendem os psicólogos Avelino Luiz Rodrigues e Allan Felippe Rodrigues Caetano, professores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, em artigo recente publicado na revista Neurociências e Comportamento e divulgado no Jornal da USP.
Para os pesquisadores, é evidente que existe um empobrecimento da linguagem, tanto oral quanto escrita. “A redução do vocabulário atesta o empobrecimento da linguagem. Menos palavras e menos verbos conjugados significam menor capacidade de expressar emoções e de elaborar o pensamento”, afirmam.
Outro agravante seria o aumento do sofrimento cotidiano, com crescente competitividade social e econômica e o volume de informações recebidas diariamente — tão grande que impede as pessoas de processarem esses dados adequadamente.
Segundo os psicólogos, esse contexto pode levar ao desenvolvimento da alexitimia, em que as relações são baseadas na utilidade — carentes de afeto — e os indivíduos mostram traços afetivos pobres, dificuldade em aprender os próprios sentimentos e os dos outros e tendência à dependência ou solidão.
Para os pesquisadores, entender a alexitimia como resultado de uma construção socioeconômica pode ajudar na compreensão e na abordagem terapêutica da condição.
E essa discussão é bem-vinda nas empresas, que lidam cada vez mais com o desengajamento dos profissionais com o trabalho e o aumento dos casos de depressão e ansiedade entre os profissionais. Os apontamentos mostram que as políticas de saúde e bem estar devem considerar a criação de ambientes menos competitivos e mais empáticos e o cuidado com os excessos na comunicação.