Amor, Família e Felicidade

Lembro do que eu senti ao “nascer” mãe.

Por mais que admire e siga a ciência, não consigo conceber uma explicação bioquímica que possa traduzir em moléculas a emoção do primeiro encontro com o meu bebê. Fato é que, ao segurar em meus braços pela primeira vez aquele pedacinho indefeso de gente, absolutamente encantador, morri e nasci de novo, junto com ele. Talvez de uma forma um tanto quanto irracional, escolhi naquele instante o ousado papel de guardiã de sua felicidade, por toda a vida; como se aquilo fosse possível! É preciso ter muita paciência com as mães.

Geralmente, elas tendem a exagerar, ainda que seja por amor.

O tempo se encarregou de me ensinar sobre os meus limites. Felicidade é uma experiência única e intransferível, cuja responsabilidade não aceita ser terceirizada. Família, assim mesmo, é o começo de tudo. É lá que respondemos ao convite de existir, dia após dia. Ninho, laboratório, escola. É lá que aprendemos com os próprios erros, com as tentativas, com as rebeldias, com os voos de curto, médio e longo alcance. Com os tropeços, com as despedidas, com as palavras não ditas, talvez mais até, do que com as que são pronunciadas. Família é espaço de pertencimento, sentido.

Até 50% da “composição” da nossa felicidade é determinada por fatores genéticos, de acordo com pesquisas da Dra Sonja Lyubomirsky, docente de Psicologia Social e Positiva da Universidade da Califórnia, Riverside. Isso significa que não herdamos dos nossos pais apenas a cor dos olhos ou a predisposição genética a desenvolver determinadas doenças. Fácil seria se pudéssemos escolher, como um presente, a sequência ideal de genes a serem transmitidos para os nossos filhos… só que não funciona assim.

E, justamente por este motivo, faz-se deveras importante a presença, o tempo de qualidade, o envolvimento com a educação, a fim de nos aproximarmos cada vez mais do cumprimento de nosso papel original, que é o de conduzir e assegurar os passos que serão dados dali adiante, quando não mais amparados pelas nossas mãos.

O que está ao nosso alcance é o cuidado: a atitude de acolhermos uns aos outros, principalmente nos momentos de fragilidade. A presença, simples e plena, enquanto vivemos a graça de compartilharmos o caminho com aqueles que amamos. E a gratidão por pertencermos: continuidade.

Floriana Bertini